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13/06/2017 - Pesquisa mostra que alunos pobres estão em escolas menos preparadas
12/06/2017
Um levantamento feito pela Fundação Lemann divulgado hoje revela um aspecto curioso e ao mesmo tempo preocupante da educação pública brasileira: alunos com menor nível socioeconômico (NSE), que dependeriam ainda mais de um ensino de qualidade para reduzir desigualdades, são aqueles que estão em escolas menos preparadas.
De acordo com a análise “As desigualdades na educação no Brasil: o que apontam os diretores das escolas”, que traz respostas de 51.136 gestores escolares ao questionário da Prova Brasil, 10% dos diretores que comandam escolas que atendem alunos com NSE muito baixo dizem não ter concluído os estudos no ensino superior.
O índice é de 5,6% entre os gestores de escolas onde o nível socieconômico dos alunos é baixo — já naquelas onde os estudantes têm perfil mais abastado, o índice é de 0%.
Mesmo quando os diretores de escolas com perfil socieconômico muito baixo têm o ensino superior, falta experiência.
Entre os que dirigiram instituições nesse perfil, 56,4% têm, no máximo, sete anos de formados.
A inexperiência também é grande entre os gestores que trabalham em colégios onde os alunos têm nível socioeconômico baixo: 47,1% se formaram nos últimos sete anos.
A taxa cai bastante quando analisadas escolas que atendem estudantes com características opostas. Naquelas onde o NSE é alto, 10,1% dos diretores se formaram há sete anos ou menos.
Nas de nível muito alto, gestores com esse perfil são apenas 4%.
Perfil dos gestores
Para mensurar as diferenças socioeconômicas dos estudantes, o Ministério da Educação (MEC) leva em consideração a posse de bens domésticos, renda e contratação de serviços pela família dos alunos, além do nível de escolaridade de seus pais.
Os alunos podem ser distribuídos em seis estratos: muito baixo, baixo, médio baixo, médio, médio alto, alto, muito alto.
O estudo também revela que boa parte dos diretores de escolas mais carentes recebem baixos salários, o índice de docentes com vínculo com essas instituições é menor, entre outros aspectos que demonstram que o padrão de qualidade necessário para minimizar as diferenças entre esses alunos e jovens com melhor condição social não existe.
— As condições das escolas que atendem alunos de baixo nível socieconômico são muito piores.
As instituições não estão conseguindo contribuir para reduzir a desigualdade.
A infraestrutura é pior, há mais carência em aspectos pedagógicos.
É um cenário inadmissível. Os alunos que mais precisam são os de baixa renda, que necessitam que a escola compense as poucas oportunidades que eles têm fora dali, e vemos que está acontecendo o contrário — afirma Ernesto Faria, autor da análise e gerente da Fundação Lemann.
Professores sem vínculo
O vínculo de professores com as instituições de ensino que atendem alunos mais carentes também costuma ser mais raro. Segundo a pesquisa, entre as escolas com NSE muito baixo, 30% delas têm no máximo um quarto do corpo docente estável. Entre as instituições com NSE muito alto o índice é de 3,9%.
A rotatividade de professores e o fato de muitos diretores estarem no início da carreira demonstram que, quando podem escolher, os educadores costumam ir para escolas com contexto mais favorável.
— Há mais professores temporários nas escolas que atendem alunos de baixa renda.
Os professores mais bem formados, os diretores que podem escolher as escolas que vão coordenar não estão indo para aquelas que atendem alunos carentes.
Os mais inexperientes, que muitas vezes não têm opção, é que vão.
Muitas vezes as instituições com esse perfil ficam em regiões mais violentas, têm um ambiente pior, não são bem vistas pela comunidade, e aí quando o professor e o diretor tem a possibilidade de escolher, ele evita essa escola — explica Faria.
Para contornar a questão, Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) defende que os governos definam estratégias para conduzir os bons profissionais até essas escolas.
— O quadro é preocupante, porque reforça a desigualdade social a partir da desigualdade educacional. Todos sabemos que equipes escolares estáveis tendem a produzir um resultado educacional muito melhor, mesmo em condições socioeconômicas mais precárias — afirmou Callegari. — Pelo processo de gestão, é possível criar mecanismos para recrutar equipes mais preparadas para enfrentar problemas mais complexos.
É possível dar aos professores e diretores incentivos de carreira e remuneração que atraiam os melhores para lidar com os desafios.
Nas escolas onde as deficiências educacionais dos alunos são mais evidentes paradoxalmente é onde os estudantes encontram menor apoio acadêmico.
A análise mostra que entre as instituições com NSE muito baixo, 19% afirmaram não realizar atividades de reforço escolar, como monitorias, aulas extras ou recuperação. Nos colégio de nível socieconômico baixo, o percentual foi de 16%.
A falta mecanismos de apoio ao estudo chegou a 10% e 11% nas escolas de NSE alto e muito alto, respectivamente.
Todo o contexto, segundo especialistas, explica outro dado da análise: em mais de 80% das escolas mais carentes sobram vagas após a matrícula.
Na visão dos educadores, o motivo é simples: as pessoas não querem estudar lá.
Fonte:
ANDI Comunicação e Direitos
Veículo:
O Globo
Acesse aqui
De acordo com a análise “As desigualdades na educação no Brasil: o que apontam os diretores das escolas”, que traz respostas de 51.136 gestores escolares ao questionário da Prova Brasil, 10% dos diretores que comandam escolas que atendem alunos com NSE muito baixo dizem não ter concluído os estudos no ensino superior.
O índice é de 5,6% entre os gestores de escolas onde o nível socieconômico dos alunos é baixo — já naquelas onde os estudantes têm perfil mais abastado, o índice é de 0%.
Mesmo quando os diretores de escolas com perfil socieconômico muito baixo têm o ensino superior, falta experiência.
Entre os que dirigiram instituições nesse perfil, 56,4% têm, no máximo, sete anos de formados.
A inexperiência também é grande entre os gestores que trabalham em colégios onde os alunos têm nível socioeconômico baixo: 47,1% se formaram nos últimos sete anos.
A taxa cai bastante quando analisadas escolas que atendem estudantes com características opostas. Naquelas onde o NSE é alto, 10,1% dos diretores se formaram há sete anos ou menos.
Nas de nível muito alto, gestores com esse perfil são apenas 4%.
Perfil dos gestores
Para mensurar as diferenças socioeconômicas dos estudantes, o Ministério da Educação (MEC) leva em consideração a posse de bens domésticos, renda e contratação de serviços pela família dos alunos, além do nível de escolaridade de seus pais.
Os alunos podem ser distribuídos em seis estratos: muito baixo, baixo, médio baixo, médio, médio alto, alto, muito alto.
O estudo também revela que boa parte dos diretores de escolas mais carentes recebem baixos salários, o índice de docentes com vínculo com essas instituições é menor, entre outros aspectos que demonstram que o padrão de qualidade necessário para minimizar as diferenças entre esses alunos e jovens com melhor condição social não existe.
— As condições das escolas que atendem alunos de baixo nível socieconômico são muito piores.
As instituições não estão conseguindo contribuir para reduzir a desigualdade.
A infraestrutura é pior, há mais carência em aspectos pedagógicos.
É um cenário inadmissível. Os alunos que mais precisam são os de baixa renda, que necessitam que a escola compense as poucas oportunidades que eles têm fora dali, e vemos que está acontecendo o contrário — afirma Ernesto Faria, autor da análise e gerente da Fundação Lemann.
Professores sem vínculo
O vínculo de professores com as instituições de ensino que atendem alunos mais carentes também costuma ser mais raro. Segundo a pesquisa, entre as escolas com NSE muito baixo, 30% delas têm no máximo um quarto do corpo docente estável. Entre as instituições com NSE muito alto o índice é de 3,9%.
A rotatividade de professores e o fato de muitos diretores estarem no início da carreira demonstram que, quando podem escolher, os educadores costumam ir para escolas com contexto mais favorável.
— Há mais professores temporários nas escolas que atendem alunos de baixa renda.
Os professores mais bem formados, os diretores que podem escolher as escolas que vão coordenar não estão indo para aquelas que atendem alunos carentes.
Os mais inexperientes, que muitas vezes não têm opção, é que vão.
Muitas vezes as instituições com esse perfil ficam em regiões mais violentas, têm um ambiente pior, não são bem vistas pela comunidade, e aí quando o professor e o diretor tem a possibilidade de escolher, ele evita essa escola — explica Faria.
Para contornar a questão, Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) defende que os governos definam estratégias para conduzir os bons profissionais até essas escolas.
— O quadro é preocupante, porque reforça a desigualdade social a partir da desigualdade educacional. Todos sabemos que equipes escolares estáveis tendem a produzir um resultado educacional muito melhor, mesmo em condições socioeconômicas mais precárias — afirmou Callegari. — Pelo processo de gestão, é possível criar mecanismos para recrutar equipes mais preparadas para enfrentar problemas mais complexos.
É possível dar aos professores e diretores incentivos de carreira e remuneração que atraiam os melhores para lidar com os desafios.
Nas escolas onde as deficiências educacionais dos alunos são mais evidentes paradoxalmente é onde os estudantes encontram menor apoio acadêmico.
A análise mostra que entre as instituições com NSE muito baixo, 19% afirmaram não realizar atividades de reforço escolar, como monitorias, aulas extras ou recuperação. Nos colégio de nível socieconômico baixo, o percentual foi de 16%.
A falta mecanismos de apoio ao estudo chegou a 10% e 11% nas escolas de NSE alto e muito alto, respectivamente.
Todo o contexto, segundo especialistas, explica outro dado da análise: em mais de 80% das escolas mais carentes sobram vagas após a matrícula.
Na visão dos educadores, o motivo é simples: as pessoas não querem estudar lá.
Fonte:
ANDI Comunicação e Direitos
Veículo:
O Globo
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