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30/07/2018 - 40% das jovens estão fora da escola para cuidar da casa e dos filhos
27/07/2018
Quando uma criança entra em uma boa creche, o País inteiro entra com ela. Exagero? Não exatamente. Segundo especialistas, os investimentos em Primeira Infância, período que vai de 0 a 6 anos, dão os maiores retornos tanto individual como coletivamente. Isto porque os bebês devem encontrar na Creche um espaço pedagogicamente preparado para aprender brincando e desenvolver habilidades que os ajudarão a alcançar seus sonhos e a construir um país melhor.
Diante de efeitos tão positivos, seria de se imaginar que o País tivesse creches para todos aqueles que desejam, certo? Errado. Segundo dados do Observatório do Plano Nacional de Educação (OPNE), apenas 30% das crianças entre 0 e 3 anos estão matriculadas em creche. Contingente do qual Sarah, de 7 meses não faz parte. Filha de Beatriz Cristiane Tendero, a bebê passa os dias aos cuidados da jovem mãe de 18 anos que não está estudando – uma narrativa feminina que se repete por todo o Brasil, com histórias de meninas que estão longe dos estudos porque precisam cuidar de alguém. De acordo com levantamento do Todos Pela Educação, 39,9% das meninas de 15 a 17 anos que estavam fora da escola em 2017 não retomaram os estudos por estarem grávidas, terem de cuidar de alguém (criança ou idoso) ou devido a afazeres domésticos. Para a população masculina, tais motivações foram apontadas por apenas 0,4%.
Tais dados apontam para a enorme falha das políticas públicas quanto à garantia de oportunidades para as mulheres: faltam vagas suficientes em creches e essa lacuna impacta especialmente a vida delas. Elas vêm, ao longo da história, sendo sobrecarregadas pelas atividades do cuidado, tendo suas necessidades e desenvolvimento adiados. Olhando em retrospecto, temos exemplos como a entrada tardia no mercado de trabalho e a escolarização recente das meninas. Coisa do passado? Que nada: ainda hoje persistem os estereótipos da figura feminina atrelados a atividades manuais, especialmente domésticas, entre outros.
Longe de ser um problema apenas das mulheres, todos saem perdendo quando é negado o direito à Educação às meninas. Naturalmente, muito se avançou no que diz respeito ao apoio à independência e protagonismo das mulheres na sociedade, mas falta muito. A dupla Beatriz e Sarah, mãe e filha, respectivamente, ilustra bem essa lacuna. A jovem teve de parar no 2° ano do Ensino Médio, pois, estando grávida, pediu licença maternidade na escola, mas não recebeu as indicações de trabalhos para recuperar o tempo distante das salas de aula no prazo. Resultado: perdeu o ano. No próximo semestre, Beatriz tentará recuperar o tempo perdido cursando a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Ela também aguarda uma vaga em Creche para a pequena Sarah, que já está na lista de espera do município de Cerquilho (SP). Caso a chance para sua filha ir para um espaço apropriado não apareça, uma mulher entrará na conta da falha do Estado: a mãe de Beatriz ficará incubida de cuidar da neta pequena. Mas a adolescente ainda se vê em vantagem a outras mulheres. “A vaga é importante, porque, diferente de mim, muita mulher não tem ninguém que olhe os filhos para poder ir trabalhar”, afirma Beatriz.
Esses fatores separados (a menina fora da escola, a falta de vaga, a avó que cuida da neta) podem parecer questões isoladas, mas, quando postos lado a lado, mostram o quanto o Estado coloca gerações de mulheres sob um ciclo de desigualdade e o quanto um combinado de políticas educacionais poderiam mudar a vida de diferentes gerações.
A começar pela Educação sexual, por exemplo. O assunto ainda é um tabu mas, se focado na responsabilidade emocional com o próprio corpo e o dos outros, como indica a Organização das Nações Unidas (ONU), o tema poderia mudar a maneira os quadros de gravidez precoce e maternidade solo. Indo em direção totalmente contrária, ao mesmo tempo que o conteúdo escolar não colabora para evitar a gravidez precoce, as escolas não têm preparo para receber jovens mães, que têm necessidades específicas como amamentação e berçário. A falta de creches surge para acrescentar ainda mais um obstáculo à mãe jovem que, não bastasse ter evadido, fica impedida de retomar os estudos sem o apoio de um terceiro. A ausência desse equipamento têm um efeito ainda mais devastador ao negar o direito à criança pequena a chance de um desenvolvimento pleno, que só pode ser assegurado em um ambiente rico de estímulos.
Apesar de todos os pesares, Beatriz pretende quebrar essa corrente, continuar os estudos e se formar em Tecnologia da Informação. “Se eu estudar e conseguir um bom emprego, acho que as coisas ficarão mais fáceis e poderei dar a ela condições de bons estudos e uma vida melhor”, pondera a jovem mãe. E ela não poderia estar mais certa: uma pesquisa publicada recentemente pelo Banco Mundial em parceria com Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz e ativista pelos direito à Educação para mulheres, revela que a Educação Básica pode mudar a vida das mulheres, pois está associada à diminuição do casamento infantil, maior renda feminina, maior independência crítica e bem-estar das mulheres.
Fonte:
ANDI Comunicação e Direitos
Veículo: Todos pela Educação
Acesse aqui
Diante de efeitos tão positivos, seria de se imaginar que o País tivesse creches para todos aqueles que desejam, certo? Errado. Segundo dados do Observatório do Plano Nacional de Educação (OPNE), apenas 30% das crianças entre 0 e 3 anos estão matriculadas em creche. Contingente do qual Sarah, de 7 meses não faz parte. Filha de Beatriz Cristiane Tendero, a bebê passa os dias aos cuidados da jovem mãe de 18 anos que não está estudando – uma narrativa feminina que se repete por todo o Brasil, com histórias de meninas que estão longe dos estudos porque precisam cuidar de alguém. De acordo com levantamento do Todos Pela Educação, 39,9% das meninas de 15 a 17 anos que estavam fora da escola em 2017 não retomaram os estudos por estarem grávidas, terem de cuidar de alguém (criança ou idoso) ou devido a afazeres domésticos. Para a população masculina, tais motivações foram apontadas por apenas 0,4%.
Tais dados apontam para a enorme falha das políticas públicas quanto à garantia de oportunidades para as mulheres: faltam vagas suficientes em creches e essa lacuna impacta especialmente a vida delas. Elas vêm, ao longo da história, sendo sobrecarregadas pelas atividades do cuidado, tendo suas necessidades e desenvolvimento adiados. Olhando em retrospecto, temos exemplos como a entrada tardia no mercado de trabalho e a escolarização recente das meninas. Coisa do passado? Que nada: ainda hoje persistem os estereótipos da figura feminina atrelados a atividades manuais, especialmente domésticas, entre outros.
Longe de ser um problema apenas das mulheres, todos saem perdendo quando é negado o direito à Educação às meninas. Naturalmente, muito se avançou no que diz respeito ao apoio à independência e protagonismo das mulheres na sociedade, mas falta muito. A dupla Beatriz e Sarah, mãe e filha, respectivamente, ilustra bem essa lacuna. A jovem teve de parar no 2° ano do Ensino Médio, pois, estando grávida, pediu licença maternidade na escola, mas não recebeu as indicações de trabalhos para recuperar o tempo distante das salas de aula no prazo. Resultado: perdeu o ano. No próximo semestre, Beatriz tentará recuperar o tempo perdido cursando a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Ela também aguarda uma vaga em Creche para a pequena Sarah, que já está na lista de espera do município de Cerquilho (SP). Caso a chance para sua filha ir para um espaço apropriado não apareça, uma mulher entrará na conta da falha do Estado: a mãe de Beatriz ficará incubida de cuidar da neta pequena. Mas a adolescente ainda se vê em vantagem a outras mulheres. “A vaga é importante, porque, diferente de mim, muita mulher não tem ninguém que olhe os filhos para poder ir trabalhar”, afirma Beatriz.
Esses fatores separados (a menina fora da escola, a falta de vaga, a avó que cuida da neta) podem parecer questões isoladas, mas, quando postos lado a lado, mostram o quanto o Estado coloca gerações de mulheres sob um ciclo de desigualdade e o quanto um combinado de políticas educacionais poderiam mudar a vida de diferentes gerações.
A começar pela Educação sexual, por exemplo. O assunto ainda é um tabu mas, se focado na responsabilidade emocional com o próprio corpo e o dos outros, como indica a Organização das Nações Unidas (ONU), o tema poderia mudar a maneira os quadros de gravidez precoce e maternidade solo. Indo em direção totalmente contrária, ao mesmo tempo que o conteúdo escolar não colabora para evitar a gravidez precoce, as escolas não têm preparo para receber jovens mães, que têm necessidades específicas como amamentação e berçário. A falta de creches surge para acrescentar ainda mais um obstáculo à mãe jovem que, não bastasse ter evadido, fica impedida de retomar os estudos sem o apoio de um terceiro. A ausência desse equipamento têm um efeito ainda mais devastador ao negar o direito à criança pequena a chance de um desenvolvimento pleno, que só pode ser assegurado em um ambiente rico de estímulos.
Apesar de todos os pesares, Beatriz pretende quebrar essa corrente, continuar os estudos e se formar em Tecnologia da Informação. “Se eu estudar e conseguir um bom emprego, acho que as coisas ficarão mais fáceis e poderei dar a ela condições de bons estudos e uma vida melhor”, pondera a jovem mãe. E ela não poderia estar mais certa: uma pesquisa publicada recentemente pelo Banco Mundial em parceria com Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz e ativista pelos direito à Educação para mulheres, revela que a Educação Básica pode mudar a vida das mulheres, pois está associada à diminuição do casamento infantil, maior renda feminina, maior independência crítica e bem-estar das mulheres.
Fonte:
ANDI Comunicação e Direitos
Veículo: Todos pela Educação
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