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23/03/2020 - Coronavírus e trabalho infantil: quarentena para quem?
18/03/2020
Ao escrever este artigo, não tenho a mínima intenção de criticar as medidas que estão sendo tomadas no tratamento e/ou prevenção do novo coronavírus, mas desejo escrever sobre as desigualdades que surgem até mesmo em uma pandemia como a que está posta, em relação a trabalhadores/as, principalmente os informais e as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil.
Desde o surgimento e uma enorme propagação do coronavírus, as autoridades em saúde, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS), recomendam o isolamento (nossa famosa quarentena) e a correta higienização das mãos com sabonetes e álcool em gel .
Diante disso, diversas escolas, universidades e órgãos do governo decretaram suspensão de suas atividades. Porém, uma grande parcela da população não poderá desfrutar desse, digamos, “privilégio” – o que é estranho, pois estamos falando de uma pandemia. Estamos falando de trabalhadores/as que são obrigados/as a continuar seu trabalho, sob ameaça de perder o emprego.
Quero destacar aqui, principalmente, os que não poderão desfrutar dessa quarentena, pois estarão dobrando suas cargas horárias. E lembrar, em especial, de nossas crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, que nesse período correm o risco de não ficar protegidos em suas casas como as crianças de classe média e alta.
A prevenção por esses dias longe da escola ficará em último plano, já que o recesso é uma oportunidade para vender mais de seu produto, ou ir com suas famílias à procura de materiais recicláveis. Quiçá estar no colo dos pais ou de terceiros na mendicância (que também é uma das faces do trabalho infantil) em portas de bancos, hospitais e comércio, onde existe grande movimentação de pessoas – e uma fácil propagação do vírus.
Alguns leitores devem estar se perguntando: “Como vai ter trabalho infantil se não tem ninguém na rua?”. O fato é que sim, tem muitas pessoas que não entrarão nesse processo de quarentena. Embora o movimento esteja diminuindo a cada dia, mesmo após a chegada do coronavírus no Brasil ainda era possível ver terminais lotados, assim como feiras e praças. E, nesses locais, não é difícil deparar-se com cenas da infância em perigo.
Estive cara a cara com essa situação quando em um terminal de ônibus, por volta das oito horas da manhã, deparei-me com mais de sete crianças trabalhando (mesmo com o decreto de suspensão de atividades já em vigor). Nós (sociedade) estamos negligenciando cruelmente essas infâncias, permitindo que as suas saúdes sejam colocadas em risco.
A desigualdade social é tão imensa que até mesmo dita quais pessoas estarão mais vulneráveis nesse processo. Dita que o menino que está vendendo jujuba no sinal (porque os pais mandaram ele ir) terá múltiplas e incontáveis chances de contrair a doença por conta de sua exposição, sendo completamente diferente da criança que pode ficar em casa com sua família tomando os remédios, tendo os cuidados necessários, e seu direito a proteção garantido.
Ah, ia me esquecendo ainda do tão necessário álcool em gel, que mesmo sendo item básico de prevenção não pode ser adquirido pelos crianças em situação de trabalho infantil e suas famílias. Em média passando dos R$ 25, o produto equivale à alimentação inteira de uma família em um dia, o que o torna inacessível para esse grupo, já que ficar com fome não é uma opção.
Em suma, é interessante uma reflexão: a quarentena será para quem? Para os que possuem empregos estáveis? Para os que ganham uma boa quantia? Eu não tenho essa certeza, mas o que é certo é que para as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, pobres e em sua grande maioria, pretos, é que não será!
Fonte:
OBSERVATÓRIO DO TERCEIRO SETOR
Por:
Felipe Caetano
Desde o surgimento e uma enorme propagação do coronavírus, as autoridades em saúde, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS), recomendam o isolamento (nossa famosa quarentena) e a correta higienização das mãos com sabonetes e álcool em gel .
Diante disso, diversas escolas, universidades e órgãos do governo decretaram suspensão de suas atividades. Porém, uma grande parcela da população não poderá desfrutar desse, digamos, “privilégio” – o que é estranho, pois estamos falando de uma pandemia. Estamos falando de trabalhadores/as que são obrigados/as a continuar seu trabalho, sob ameaça de perder o emprego.
Quero destacar aqui, principalmente, os que não poderão desfrutar dessa quarentena, pois estarão dobrando suas cargas horárias. E lembrar, em especial, de nossas crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, que nesse período correm o risco de não ficar protegidos em suas casas como as crianças de classe média e alta.
A prevenção por esses dias longe da escola ficará em último plano, já que o recesso é uma oportunidade para vender mais de seu produto, ou ir com suas famílias à procura de materiais recicláveis. Quiçá estar no colo dos pais ou de terceiros na mendicância (que também é uma das faces do trabalho infantil) em portas de bancos, hospitais e comércio, onde existe grande movimentação de pessoas – e uma fácil propagação do vírus.
Alguns leitores devem estar se perguntando: “Como vai ter trabalho infantil se não tem ninguém na rua?”. O fato é que sim, tem muitas pessoas que não entrarão nesse processo de quarentena. Embora o movimento esteja diminuindo a cada dia, mesmo após a chegada do coronavírus no Brasil ainda era possível ver terminais lotados, assim como feiras e praças. E, nesses locais, não é difícil deparar-se com cenas da infância em perigo.
Estive cara a cara com essa situação quando em um terminal de ônibus, por volta das oito horas da manhã, deparei-me com mais de sete crianças trabalhando (mesmo com o decreto de suspensão de atividades já em vigor). Nós (sociedade) estamos negligenciando cruelmente essas infâncias, permitindo que as suas saúdes sejam colocadas em risco.
A desigualdade social é tão imensa que até mesmo dita quais pessoas estarão mais vulneráveis nesse processo. Dita que o menino que está vendendo jujuba no sinal (porque os pais mandaram ele ir) terá múltiplas e incontáveis chances de contrair a doença por conta de sua exposição, sendo completamente diferente da criança que pode ficar em casa com sua família tomando os remédios, tendo os cuidados necessários, e seu direito a proteção garantido.
Ah, ia me esquecendo ainda do tão necessário álcool em gel, que mesmo sendo item básico de prevenção não pode ser adquirido pelos crianças em situação de trabalho infantil e suas famílias. Em média passando dos R$ 25, o produto equivale à alimentação inteira de uma família em um dia, o que o torna inacessível para esse grupo, já que ficar com fome não é uma opção.
Em suma, é interessante uma reflexão: a quarentena será para quem? Para os que possuem empregos estáveis? Para os que ganham uma boa quantia? Eu não tenho essa certeza, mas o que é certo é que para as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, pobres e em sua grande maioria, pretos, é que não será!
Fonte:
OBSERVATÓRIO DO TERCEIRO SETOR
Por:
Felipe Caetano