Notícias

06/11/2019 - Mapa da Desigualdade: morador de Cidade Tiradentes vive em média 23 anos a menos que o de Moema em SP

05/11/2019
 
Média de vida em Moema é de 80 anos, em Cidade Tiradentes o valor cai para 57,3 anos. A média geral da cidade de São Paulo é de 68,7 anos.
 
Moradores do bairro Cidade Tiradentes, no extremo Leste de São Paulo, podem viver em média 23,3 anos a menos do que os moradores de Moema, bairro nobre da Zona Sul. É o que mostra o Mapa da Desigualdade 2019, estudo divulgado nesta terça-feira (5) pela Rede Nossa São Paulo, com base em dados de 2018.

Enquanto a média de vida em Moema é de 80 anos, em Cidade Tiradentes o valor cai para 57,3 anos. A média geral da cidade de São Paulo é de 68,7 anos.
 
“É como se a cada quilômetro que a gente andasse perdesse um ano de vida. É mais ou menos essa distância que há entre o melhor e pior distrito [Moema e Cidade Tiradentes]”, afirma Jorge Abrahão, coordenador da Nossa SP.

A pesquisa completa traz 53 indicadores com as diferenças entre os 96 distritos da cidade em temas como habitação, meio ambiente, educação, cultura e segurança viária.

*   55% dos distritos da cidade de SP não possuem centros, casas ou espaços de cultura

*   Moradores da Vila Andrade esperam mais de dois meses por consulta médica

*   Barra Funda é o bairro com maior número de acidentes em São Paulo

O cálculo utilizado para a média de idade é equivalente à soma das idades ao morrer dividida pelo número total de mortes. Depois, a rede criou o "desigualtômetro", que mede a distância do melhor e do pior indicar. A média utilizada na pesquisa é diferente da “expectativa de vida”, que é uma projeção do número de anos que a população de um local deve viver caso sejam mantidas as mesmas condições do nascimento.

Pela análise feita pela Nossa São Paulo é possível concluir que há maior número de mortes entre jovens nos bairros que estão nas últimas colocações: Cidade Tiradentes(57,3), Marsilac (57,5), Grajaú (58,6), São Rafael (58,7) e Anhanguera (58,8). Do outro lado, depois de Moema, aparecem os bairros nobres Jardim Paulista (79,85) Consolação (79,43), Alto de Pinheiros (79,09) e Itaim Bibi (78,67).

"A gente entende que esses bairros são bairros onde toda a cidade passa por ali, porque a gente tem uma questão de muita centralização. Então, nos bairros centrais há oferta de emprego, de cultura e você acaba fazendo com que ali os encontros se estabeleçam de uma maneira muito mais forte, os preconceitos se estabeleçam dessa maneira também mais forte, esses encontros, essas trocas, nem sempre positivas, e são lugares onde tem uma infraestrutura de denúncia”, afirma Jorge Abrahão, coordenador da Rede Nossa São Paulo.

Um dos pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, Marcelo Nery, ressalta que existem alguns fatores que associados acabam gerando uma menor idade média ao morrer em alguns distritos de São Paulo, como por exemplo, a densidade populacional, o acesso a uma infraestrutura urbana ruim, características familiares dos habitantes da região e a violência.

São Paulo já foi uma das capitais mais violentas do país no início dos anos 2000. Atualmente, ela é a capital menos violenta do país em relação a homicídio. Porém, mesmo no contexto dessa queda tão grande em um período tão curto, a gente ainda observa que existem localidades específicas que apresentam essa grande diferença com relação à mortalidade violenta e com relação à expectativa de vida [média de idade ao morrer]”, disse Nery entrevista ao G1.

Abner Alves é um exemplo da violência que atinge jovens em Cidade Tiradentes. Ele foi morto há três anos durante uma abordagem policial. O jovem tinha 20 anos e trabalhava em um açougue próximo à sua casa. Segundo sua mãe, Maria José Paula Alves, naquele dia ele estava indo conversar com uma tia sobre a possibilidade de cursar a faculdade de direito, que era seu sonho. “Quem sofre somos nós, que somos mães. Eu mesmo sofro“, disse em entrevista ao G1. Ela afirma que ainda guarda as memórias do filho. “O quarto desde o dia que ele morreu está trancado, eu não tirei nada de lá, não consigo.”

Segundo a Polícia Militar, Abner foi baleado depois de uma troca de tiros com policiais durante uma perseguição. Ainda segundo a PM, ele foi identificado como suspeito de um roubo de carro com outros dois jovens. A família nega esta versão.

Segundo Marcelo Nery, os confrontos com policiais não ocorrem em toda a cidade.

"O crime organizado então pode ser um desses fatores pontuais, mas além disso a gente pode colocar também a pauta política de segurança pública e a ação da polícia como um desses fatores pontuais, por exemplo, a gente observa que hoje tem uma grande mortalidade oriunda do conflito entre criminosos e policiais, essa grande mortalidade oriunda desse conflito, acontece também, não em toda cidade, mas em lugares específicos, e hoje é muito significativo o número de pessoas mortas em confronto com a polícia. Outros fatores e daí eu vou citando para exemplificar, por exemplo, hoje a gente observa que fatores educacionais, de renda e de infraestrutura que eu citei, que eram os generalizados foram elementos que estão presentes na explicação de que se um lugar é mais, ou menos violento, se a pessoa vive mais ou menos no contexto que nós temos hoje isso se tornou mais grave em lugares específicos", diz.

De acordo com o coordenador da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, outro fator que também contribui para queda da idade média ao morrer é a mortalidade infantil. Cidade Tiradentes ocupa a 7ª posição entre os distritos com maior proporção de óbitos de crianças menores de um ano para cada mil crianças nascidas vivas de mães residentes na região. O distrito que lidera o indicador é Marsilac (24,59), seguido da República (24,29), Parque do Carmo (19,52) e José Bonifácio (18,83).


Violência LGBTQI, racial e contra a mulher

A pesquisa também trouxe indicadores específicos de violência, como por exemplo, contra pessoas LGBTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, travestis e transgêneros, Queer, Intersexuais), cujo líder é a República, na região central, com 18 casos de ocorrências de violência homofóbica e transfóbica registrados. Logo depois, vem a Penha (11), Zona Leste, e Cidade Ademar (10), Zona Sul.

O Mapa também apresenta dados sobre a violência contra a mulher. Em 2017, foram registrados 54.386, já em 2018 o número subiu para 82.233, o que apresenta um aumento de 51%. A maioria dos casos foram registrados na Sé, no Centro de São Paulo, local que abriga a primeira unidade da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), que até o ano passado era a única que funcionava 24 horas.

Quanto a violência racial, a maior proporção de ocorrências de racismo e injúria racial foi registrada na Sé (13), na região central, seguido pela Barra funda (7,62) e, por fim, o Jardim Paulista (6,96). Entretanto, os distritos que possuem maior população que se identifica como preta ou parda não são esses, mas, sim, o Jardim Ângela com 60,11%, Grajaú com 56,81% e Parelheiros com 56,61%, os três Zona Sul, e na Sé, o percentual é de 38,35%.

A única Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) do estado fica no Centro de São Paulo.


Sobre o mapa

O Mapa da Desigualdade é desenvolvido pela Rede Nossa SP anualmente desde 2012. Ele compara dados públicos sobre os 96 distritos de São Paulo com objetivo de ampliar o acesso às informações e auxiliar na elaboração de políticas públicas. Em 2017, por exemplo, o mapa apontou que o morador dos Jardins vivia mais do que o do Jardim Ângela.

Um dos grandes objetivos é revelar os dados, construir coalizões com a sociedade civil, governo e empresas para criar programas e políticas. A maneira resolver a desigualdade é investir em serviços públicos de qualidade: saúde, educação. O mapa mostra essa discrepância, mas com uma esperança de gerar mudança”, afirma Abrahão.


Fonte: G1
Por: Beatriz Borges e Marina Pinhoni, G1 SP — São Paulo
Acesse aqui
Voltar

Receba Informativos por E-mail

Cadastre seu e-mail e fique por dentro das novidades.