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08/01/2018 - Aquecedor solar projetado por internos da Fundação Casa é aplicado em obras públicas em Batatais, SP

07/01/2018
 
Sistema que economiza energia elétrica foi adaptado por menores com uso de materiais recicláveis. Projeto será usado em abrigo municipal e no vestiário de um campo de futebol.
 

Pensar na solução de um problema e melhorar a vida das pessoas.
Esse foi o desafio proposto aos internos da Fundação Casa em Batatais (SP) e que resultou no desenvolvimento de um aquecedor solar construído com canos de PVC e garrafas plásticas: o sistema economiza energia elétrica e recicla materiais que iriam para o lixo.

O projeto não é inédito, mas a iniciativa dos menores chamou a atenção da Prefeitura, que decidiu investir na ideia e aplicar o protótipo em um abrigo municipal.
O trabalho também está disputando um concurso cultural realizado por uma rede varejista brasileira.

Na minha cabeça, eu achava que não tinha capacidade de fazer um projeto desses. Percebi que a gente também é capaz de fazer coisas boas. Agora, quando eu sair, já penso em arrumar um emprego, terminar os meus estudos”, diz Marcelo*, de 18 anos.

Apreendido há seis meses por tráfico de drogas, o jovem conta que a ideia do aquecedor solar surgiu em uma aula de geografia, quando o professor explicava a importância do uso de energias renováveis. Foi o docente quem levou um esboço do projeto para a sala.

O custo do chuveiro elétrico é o maior na conta de energia. Por isso, a gente fica ansioso para ver o projeto funcionando na prática. A gente percebeu que isso pode melhorar a vida das pessoas".

Rafael*, de 16 anos, conta que a ideia original do aquecedor solar foi aperfeiçoada a partir dos conhecimentos de cada um dos alunos. O adolescente, por exemplo, trabalhava como carpinteiro, antes de se envolver com o tráfico de drogas e ser apreendido duas vezes.

A gente tinha um pouco de noção de como fazer aquilo funcionar na prática. Tinha gente que sabia de encanamento, daí fomos desenvolvendo”, conta. “Pessoas vão utilizar e descobrir que funciona. Eu mesmo penso em construir um desses depois que sair daqui”, completa.


Ressocialização

Orientador dos internos, o professor Rodrigo Matassa explica que o aquecedor solar é simples de ser construído e não exige uma mudança radical na estrutura da casa.

O sistema funciona da seguinte forma: em vez de a água sair da caixa e ir direto para as torneiras, ela passa por um longo cano de PVC, instalado em ziguezague sobre o telhado da residência. Dessa forma, o líquido é aquecido pelos raios solares.

O encanamento é pintado de preto para absorver ainda mais o calor e também é revestido com garrafas plásticas, para evitar que correntes de ar resfriem a água.
Ao final do trajeto, o líquido volta para a caixa, em um circuito contínuo, até que alguém acione o chuveiro ou uma torneira.

Eu fiz algumas pesquisas na internet, encontrei alguns modelos, a gente fez uma compilação, eles gostaram da ideia e começaram a desenvolver. O importante é eles entenderem na prática o que estava sendo estudado em sala de aula”, diz o professor.

Matassa afirma que, além de facilitar o aprendizado, o projeto também levou os internos a refletir sobre questões importantes no processo de ressocialização, como a convivência em sociedade e o bem estar social.

Quando você mostra que ele faz parte e pode fazer a diferença, pode mudar a sociedade e, através disso, mudar a própria vida, automaticamente você está fazendo o processo de ressocialização. Você cria uma conscientização social que antes não existia”, explica.


Na prática

E para incentivar ainda mais os adolescentes, Matassa apresentou o projeto à Prefeitura de Batatais, explicando a viabilidade técnica e financeira do aquecedor solar, principalmente em moradias populares.

O diretor de Obras, Silvio Valério da Silva, confessa que, inicialmente, duvidou da ideia, mas, depois de realizar alguns testes em um modelo que ele próprio construiu, e sugerir alguns aperfeiçoamentos, percebeu que o aquecedor era funcional.

Com as plantas de engenharia em mãos, Silva afirma que o aquecedor solar dos adolescentes será construído em um abrigo municipal para crianças em situação de vulnerabilidade social.
A previsão é que o sistema seja inaugurado ainda em janeiro.

Além disso, a Prefeitura vai aplicar o projeto na construção de um vestiário em um campo de futebol que já existe e é administrado por uma entidade social.
O banheiro terá 45 metros quadrados e cinco chuveiros.

Apesar de não ter feito cálculos específicos, Silva estima que o aquecedor solar promova uma economia de 40% na conta de energia elétrica do complexo esportivo.

Não é porque o menino está apreendido, praticou um delito, que não pode ser um grande engenheiro. Nós podemos ter grandes talentos dentro da Fundação Casa. Todo mundo tem direito e merece uma chance de recuperação. A gente só precisa dar oportunidade”, conclui.

*Os nomes da reportagem foram modificados para preservar a identidade dos entrevistados.


Fonte:
G1 - Ribeirão e Franca (EPTV)
Por:
Adriano Oliveira
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